Já com o mês de Agosto a terminar e quase a fazer o “reboot” de Setembro, o Titanic Sur Mer recebeu com “pompa e circunstância”, Nina Miranda, a voz brasileira do trio musical Smoke City. O grupo lançou dois álbuns durante os 5 anos que estiveram no activo, antes de acabarem em 2002. O disco de estreia “Flying Away” de 1997 foi o mais bem sucedido da banda inglesa.
Apesar da curta carreira, o trio britânico compôs o tema “Underwater Love”, sendo o single mais reconhecido pelo grande público. Os Smoke City apareceram durante o auge do movimento trip hop, emergido no meio da década de 1990 em Inglaterra, que têm bandas de referências como Portishead, Massive Attack e Lamb. Comparando com os outros grupos, os Smoke City distanciavam-se ao apresentarem uma fusão de sonoridades, que davam destaque às influências dos ritmos brasileiros.
Volvidos 14 anos após o cessar de actividades dos Smoke City, Nina Miranda esteve sempre ligada ao meio musical, participando em outros projectos no circuito alternativo. Juntamente com Chris Franck, colega de banda nos Smoke City, Miranda formou os Zeep, banda que prosseguiu a veia experimental, editando dois discos no final da década passada.
Com um clima de uma noite de verão, junto à zona ribeirinha do Cais do Sodré, o concerto estava agendado para começar às 23:30. Mas, por motivos não explicados, houve uma alteração de alinhamento o que obrigou os sets das DJ’s Lady G Brown e Selecta Alice a anteciparem a actuação.

Hora e meia depois e com uma casa bem composta, sobem ao palco os Kanoa, banda que fez acompanhar Nina Miranda. Com oito músicos em palco, estavam acompanhados de uma guitarra, um baixo, um sintetizador, uma mesa de mistura e ainda uma “frota” de percussão, que para além da bateria, incluía djembés, congas entre outros instrumentos.
Depois de uma apresentação meio atabalhoada por parte de dois membros da organização, Nina Miranda aparece finalmente ao palco, com um “top” e uma saia cinzenta com padrões axadrezados.
A sonoridade ouvida é drasticamente diferente, comparando com o ritmos cadenciados do trip hop dos Smoke City. A dinâmica em palco é fruto das influências de cada músico, dando um sabor cosmopolita à actuação.
Apesar do número de músicos em palco, a vocalista brasileira é a “mestre de cerimónias”. Ao longo de uma hora de concerto, Nina Miranda mostra que ainda não perdeu os seus dotes vocais, apesar do afastamento dos holofotes mediáticos da música.
A noite brindou de um momento completamente inesperado, protagonizado pela subida dos três degraus na frente de palco de Manuel João Vieira. O homem por detrás das letras do grupo Ena Pá 2000 e também o “eterno” candidato à presidência da república cantou, juntamente com a estrela da noite, “Norwegian Wood” dos Beatles resultando num momento inédito, que dificilmente se repetirá num futuro próximo.

Nina Miranda, com a força do hábito, interpela o público em inglês ao agradecer as palmas. Apesar de ter sido apenas um caso pontual, a vocalista desabafa que é bom falar na língua nativa e que a passagem por Portugal faz com que se sinta em casa, confessa ao esboçar um sorriso para a plateia repleta de pessoas das mais variadas partes do globo.
Houve inevitávelmente nostalgia pelos Smoke City em “Mr. Gorgeous (And Miss Curvaceous)”, com direito a um coro bem afinado no refrão, ou a melancólica “Flying Away” já a encerrar a festa de Verão proporcionada por Miranda. Mas foi com”Underwater Love” (com direito a esguichadelas de água), que, de facto consumou a passagem de Nina Miranda, pelo espaço de música na noite lisboeta.
O calor do Brasil fez-se sentir pela sala fora e mesmo com a época balnear a despedir-se de Portugal. Nina Miranda proporcionou uma autêntica festa de Verão. Durante o concerto, a vocalista revelou que esteve em Lisboa a ensaiar para o concerto no Cais do Sodré e aproveitou para “matar saudades” de Portugal.
Que este concerto seja um porta de entrada para decidir futuros projectos. As provas foram dadas, por isso cabe de alinhar pormenores para navegar em “mares nunca dantes navegados”.
Texto e fotos: João Pardal
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lovely texto.
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